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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Os gatos e as coisas


Se pensarmos na crônica e quisermos fazer coro com os adeptos das etiquetas, das estalagens que recebem ou às quais se destinam os tipos de escrituras, temos que flexionar os joelhos e orar ao tempo.  Para quem ainda fica preso a necessidade de  respostas sobre que tipo de texto estão lendo, sugiro uma crônica (entre tantas outras esquecidas nas paredes invisíveis da cárcere da ideia tempo) na qual figura um felino.  Felinos perambulam a literatura desde muito. Baudelaire lembra que os chineses viam as horas nos olhos dos gatos, Borges  deixa um tigre passeando em suas páginas.
Apareceu outro gato nas páginas de um escritor crônico e cronista. Digo crônico, pois este cronista escreve poesia e livros infanto juvenis. Aliás, eis outro problema crônico, classificar. A este respeito, o mesmo Jorge Luis Borges escreve ‘El idioma analitico de John Wilkins’ que está em Otras Inquisiciones, livro publicado em 1952. Neste texto que se torna mote para Michel Foucault escrever As palavras e as coisas (1966), Borges escreve a respeito do entendimento humano sobre o universo e das maneiras de classificação e da arbitrariedade da linguagem. Neste texto Borges relata que no idioma análogo de Letellier (1850) a, que dizer animal e aboj, felino e aboje, gato. Tanto Borges quanto Foucault tratam de uma arqueologia do discurso humano.
O que lemos então em Crônicas de gatos, (Design Editora, 2010) de Rubens da Cunha e ilustrado por Regina Marcis é uma narrativa sobre a saudade, aprendizado e transitoriedade. Um texto em que um sujeito rememora a passagem de um gato por seu universo. Um gato leitor que escolheu a estante de livros para dormir e que lia com seu dono. Um gato que desperta o sujeito e o faz crescer, “quando esse gato chegou, resolvi crescer junto com ele”.
 O gato permanece durante um ano dividindo experiências de leitura com seu dono, depois desaparece. Crônica de gatos pode ser lido também como uma narrativa da infância, na medida em que este sujeito sem fala antes da chegada do gato, torna-se livro para o gato que aparece depois do sumiço do outro. Esse último gato lia pessoas e não livros como o gato anterior, lia seu dono que passou a ser a biblioteca de um gato. A existência do sujeito dessa maneira vincula-se a existência dos gatos ora como leitor, ora como livro para ser lido. Crônica de gatos é uma crônica para gatos, jovens e adultos.

2 comentários:

  1. oi Cristiano, obrigado pelo texto... a escrita para esse publico é uma seara inédita e difícil para mim, tuas palavras me deram um pouco mais de segurança.

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  2. Seara cheia de plantinhas comestíveis. não é fácil. outro dia iniciei uma narrativa pensando nesta direção. tá longe. o teu livro eo do klamt estão muito legais. vou ler pros sobrinhos. abraço.cm

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